sexta-feira, 21 de junho de 2013

CULPA





  Introdução

Todos nós sofremos com a culpa. Alguns hoje, outros ontem e muitos amanhã. Desde a queda, o homem sofre com a culpa (Gn 3:8-12). Embora haja a culpa procedente, a maior parte das pessoas sofre de sentimento de culpa improcedente, ou seja, quando na realidade ela não fez nada, mas sente que fez e se sente culpada - como no caso de filhos que se culpam pela separação dos pais; pessoas que se sentem culpadas por terem deixado que adultos abusassem sexualmente delas, quando eram crianças; mulheres que se sentem culpadas por terem sofrido estupro, etc. Há muitas pessoas com esse problema. Entretanto, vamos nos deter na culpa gerada pelo próprio pecado. Esta lição está baseada e adaptada do livro: Aconselhamento Cristão, Gary Collins, Ed. Vida Nova, p.100 -110

I - Tipos de culpa

Segundo os especialistas em aconselhamento bíblico, existem dois tipos de culpa.
I. A culpa real. É a culpa que existe porque uma lei foi quebrada, independentemente de sentir-nos culpados ou não. Os tipos de culpa real são quatro.

A) Culpa legal. Quando uma lei é quebrada. Ex.: ultrapassar o sinal vermelho ou roubar um chocolate no supermercado. Perante a lei, aquele que assim proceder é culpado, independente de ser apanhado ou sentir remorso.

B) Culpa social. Quando quebramos uma lei não escrita, mas socialmente imposta. Ex.: fazer fofoca, fazer uma brincadeira de mau gosto ou comporta-se com grosseria. Nenhuma lei é quebrada e talvez não cause nenhum remorso, mas feriu o código ético social.

C) Culpa pessoal. Quando não fazemos o que é correto. Ex.: não devolver o troco que foi dado a mais, colar numa prova ou ignorar alguém necessitado. Sentimos ou não culpa, mas temos certeza que não foi correto o que fizemos.

D) Culpa bíblica. Quando uma lei de Deus é quebrada. A Bíblia chama essa condição de "pecado".

2. A culpa sentida

É o sentimento desconfortável, remorso ou vergonha que surge com frequência quando falamos, fazemos ou pensamos algo errado, ou deixamos de fazer o que entendemos ser o correto. Como resultados do sentimento de culpa surgem o desânimo, a ansiedade e o medo do castigo.

Quando o sentimento de culpa pelo pecado nos aflige, ele tem um propósito benéfico: serve de aviso de que alguma coisa está errada no nosso relacionamento com Deus ou com os outros.

II  - A Bíblia e a culpa
Na Bíblia, encontramos pouca diferença entre ser culpado e haver pecado. A pessoa é culpada, no sentido bíblico, quando desobedece a uma lei ou a um princípio da Palavra de Deus. O propósito é espiritual, pois visa estimular o ser humano a mudar de comportamento e buscar o perdão de Deus, além de ajudar a resolver conflitos com outras pessoas. Por outro lado, existe um falso sentimento de culpa (complexo de culpa), quando a pessoa coloca sobre ela pesos e cobranças que o próprio Deus não faz.



I. Complexo de culpa versus tristeza construtiva (2Co 7:6-10)
Nessa passagem, Paulo contrasta a "tristeza segundo o mundo" com a "tristeza segundo a vontade de Deus", que é uma tristeza construtiva, pois leva a uma mudança positiva.
Tristeza segundo Deus: tristeza construtiva (v.  10a) - produz arrependimento para salvação.
Tristeza segundo o mundo: (v. 10a) - produz morte.




Complexo de Culpa
Tristeza Construtiva
Pessoa focalizada
Você
Deus e outros
Atitude Focalizada
Erros do passado
Prejuízo causados a outros e vontade de realizar obras corretas no futuro.
Motivação para a mudança
Evitar sentimentos negativos (complexo de culpa)
Ajudar outros. Promover o próprio crescimento. Fazer a vontade de Deus.
Reação
Ira,frustração e autocritica
Amor respeito combinados com preocupação
Resultado
  • Mudança externa ( Temporária )
    • Falta de crescimento
    • Mais Culpa
Arrependimento e mudança baseados numa atitude de amor e respeito mútuos
    2. Um exemplo
    Imagine que você vai ouvir música com um amigo e, acidentalmente você liga o aparelho dele na voltagem errada. O complexo de culpa nos leva a ter a seguinte reação: "Me desculpe. Veja como sou desastrado. Que situação horrível!". O ofensor se sente tolo e cheio de auto-crítica. Mas, a tristeza construtiva leva a pessoa a ter outra reação: "Sinto muito. Vou buscar o meu aparelho de som e deixarei com você enquanto o seu estiver no conserto". A tristeza construtiva visa reparar o dano causado ou erro cometido, sem levar a pessoa a ter uma sensação de que o mundo acabou.

    III -  As causas da culpa
    1. Causas legítimas
    A) Desobediência à Palavra. A Bíblia é o padrão para identificar a culpa (Rm 2: 1-2).
    B) Pecados não confessados fazem com que o crente se sinta culpado e não perdoado (I Jo 1:9).
    C) Conflitos não resolvidos. Quando negamos conceder perdão ou pedir perdão (Mt 6: 14-15).
    D) Satanás. Causa sentimentos de culpa através da acusação (Ap 12: I O).

    2. Causas não-legítimas
    A) Peso de consciência. A consciência não é um guia de confiança (I Co 10:29; ITm 4:2; IJo 3:20).
    B) Desejo de agradar a todos. A pessoa sente culpa por ter que contrariar alguém ou por dizer "não".
    C) Perfeccionismo. Muitas vezes o crente estabelece um padrão moral ou espiritual de vida que nem o próprio Deus exige dele (Dt 10: 12:13 - em lugar de Israel, coloque o seu nome).
    A) Engano ministrado por falsos mestres (At 20:29-30).
    3. Perguntas para discernir o falso sentimento de culpa
    b) Sinto peso de culpa porque desobedeci algum princípio bíblico?
    c) Continuo sentindo peso de culpa, mesmo depois de ter confessado meu pecado?
    d) O sentimento se relaciona a um padrão perfeccionista que estabeleci para mim mesmo?
    e) O sentimento vem porque tenho medo de ser frio e não me sentir culpado de nada?
    "Carregar falsos sentimentos de culpa é pior do que carregar os verdadeiros" (Autor Desconhecido).

    III – Efeito da Culpa
    O ser humano reage de diversas formas ao sentir-se culpado por algo que fez ou deixou de fazer.
    I. Reação de defesa
    O indivíduo culpa os outros para justificar seus atos, fica zangado e nega sua responsabilidade.
    2. Reação de auto condenação Ansiedade, baixa estima, pessimismo, insegurança e autopunição.
    3. Reação social
    Afasta as pessoas e se afasta delas. Torna-se crítico demais e isolado.
    4. Reação física
    Por causa da tensão, o corpo sofre e enfraquece.
    5. Reação de arrependimento e perdão Os efeitos da culpa não são todos negativos. Alguns aprendem a se conscientizar de seus erros, a melhorar através deles, a confessar-se a Deus e aos outros, e alegrar-se na segurança de que "se confessamos nossos pecados, ele é fiel e usto para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (I Jo I :9).
    'I - Como tratar a culpa (SI 32)
    o Salmo 32 é um bálsamo para aquele que busca o perdão de Deus. Veja o que nos ensina.
    I. A culpa é uma doença moral, por isso o tratamento é espiritual (SI 32: 1-2)
    Nesse Salmo, Davi nos ensina que a culpa surge por causa de fracassos morais não-confessados e não perdoados. Em outras palavras, a culpa é uma doença moral capaz de afetar a mente, a alma e o corpo do ser humano. O primeiro ser humano a senti-Ia foi Adão, e desde então seus descendentes sofrem física e emocionalmente as conseqüências de seu erro. Mas essa doença tem cura. Deus Se compromete, em Cristo, a apagar os pecados confessados usando o perdão e a justificação. E o resultado do tratamento é a alegria verdadeira (bem-aventurado). Vejamos o caso apresentado em João 8:3-11, no qual uma mulher foi apanhada em adultério. Ela era culpada e se sentia dessa forma, mas Jesus não era como os demais que queriam condená-Ia. Ele não aprovou seu pecado nem abaixou os padrões de Deus, mas ordenou­lhe com bondade e firmeza "vai e não peques mais". Mesmo nessas condições, Deus não nos rejeita.
    2. Arrependimento e confissão é o segredo do perdão (SI 32:3-4)
    Davi sofreu as consequências do pecado não confessado. Da mesma forma, muitos crentes experimentam sentimentos de culpa pouco saudáveis, que levam à depressão, perda da paz, medo, complexo de inferioridade, solidão, e um sentimento de rejeição não-verdadeiro por parte de Deus.
    3. Deus não espera de nós perfeição, mas disposição (SI 32:5-7)
    Deus espera de nós uma tentativa sincera de fazer a Sua vontade da melhor maneira que pudermos. Deus não está tão interessado no que fazemos ou deixamos de fazer, mas em quem realmente somos e em que estamos nos tornando. Aquele que é compassivo, também ama incondicionalmente e perdoará nossos pecados sem exigir de nós expiação ou penitência, pois a expiação e a penitência não são mais necessárias, porque Cristo já pagou pelos pecados humanos, " ... uma única vez, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus ... " (I Pe 3: 18).
    'I J - Prevenir
    é melhor que culpar-se
    Há determinadas atitudes que devemos tomar ante o sentimento ou o complexo de culpa com as quais beneficiaremos a nós mesmos e ao próximo.
    I. Ensinar a doutrina bíblica do perdão. A melhor maneira de aprender é experimentar e praticar.
    2. Mostrar a diferença entre complexo de culpa e tristeza construtiva.
    3. Ajudar os irmãos a compreender que Deus conhece nossas fraquezas e não nos rejeita por causa delas, mas perdoa, ajuda e restaura com amor, todo aquele que arrependido confessa seu pecado a Ele.
    4. Examinar à luz da Bíblia as expectativas e padrões de "certo e errado". O que eu penso ser "certo" é certo porque a Bíblia diz, ou porque eu penso assim? Da mesma forma para o que eu penso ser "errado".
    S. Lembrar que os sentimentos de culpa pelo pecado não são maus, pois podem nos estimular a confessar o pecado ou a resolver um conflito de relacionamentos.
    6. Pedir ajuda adequada, quando se sentir incapaz, não-perdoado ou rejeitado. A pergunta é: como ajudar as pessoas que recisam de arrependimento sem criar nelas um complexo de culpa?" Lembre-se que há psicólogos cristãos, devidamente preparados para lidar com o complexo de culpa.

    CONCLUSÃO:
    A reação construtiva diante da culpa deve ser o arrependimento, a confissão e o abandono do pecado, independente de achar-se digno ou indigno, limpo ou sujo ou sentir-se rejeitado por Deus. Se não há arrependimento, confissão e abandono do pecado, Satanás vai conseguir que o sentimento de culpa seja um aliado em seu propósito de afastar-nos de Deus.

    Devemos acreditar que a solução final para a culpa e os sentimentos de culpa é admitir nossa culpa, confessar o pecado a Cristo e, quando necessário, aos outros, e então crer que com a ajuda de Cristo, somos perdoados e aceitos por Deus. E Ele, nos ajudará a aceitar, amar e perdoar tanto a nós mesmos como aos outros. A culpa do crente já foi removida na cruz do Calvário, por iniciativa do Senhor. E, com a ajuda do nosso Salvador, temos um meio de tratar os sentimentos de culpa.
    "O propósito do perdão de Deus não é apenas aliviar a nossa consciência, mas nos dar uma vida plena."

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