INTRODUÇÃO
Há uma única palavra que abrange
todas as riquezas que encontramos em Cristo: graça. Que palavra
magnífica!
Ela é usada mais de 170 vezes no Novo
Testamento, para referir-se ao favor divino conferido a pessoas que
não o merecem. É o meio pelo qual recebemos todas as bênçãos
materiais e espirituais. Para nós a graça de Deus é
inexaurível e ilimitada, incluindo tudo a respeito das provisões em
Jesus Cristo.
Pela graça, somos salvos (Ef 2.8) e
nos mantemos firmes (Rm 5.2). A graça sustenta a nossa salvação,
dá-nos vitória na tentação e ajuda-nos a suportar o sofrimento e
a dor. A graça nos ajuda a entender a palavra e a aplicá-la com
sabedoria às nossas vidas, nos conduz à comunhão e à oração,
capacitando-nos a servir ao Senhor eficazmente. Em suma, existimos e
estamos firmes no ambiente da graça toda-suficiente.
1. GRAÇA SOBRE GRAÇA
Uma das declarações mais
maravilhosas sobre o Senhor é que Ele era “cheio de graça”
(Jo 1.14); e “nós temos recebido da sua plenitude e graça
acumulada – uma graça sobrepondo-se à outra. Tal graça é nossa
a cada dia; é ilimitada e suficiente para cada necessidade. Paulo
falava a este respeito como “abundância da graça” (Rm5.17);“a
suprema riqueza da sua graça” (Ef 2.7) e a “superabundante
graça” (2 Co 9.14). Pedro mencionou a “multiforme” graça de
Deus (1 Pe 4.10). Ele usou esta mesma palavra, ao falar das várias
provas que os crentes enfrentam (1 Pe 1.6).
Este é um maravilhoso paralelo: a
multifacetada graça de Deus é suficiente para as nossas múltiplas
provas.
2. GRAÇA SUPERABUNDANTE
Talvez em nenhum outro lugar a
magnificência da graça é mais maravilhosamente expressa do que em
2 Coríntios 9.8,11: As ênfases neste texto são admiráveis: “Deus
pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em
tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa
obra…enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz
que, por nosso intermédio, sejam, tributadas graças a Deus”.
Em certo sentido, só esse texto já
resume tudo que poderia ser dito sobre nossa suficiência em Cristo.
Postos em um contexto que descreve as provisões materiais concedidas
por Deus, estes versículos têm um significado que obviamente se
estende a proporções ilimitadas. A graça superabundante habita
todo crente (v. 14). É de se admirar que Paulo não pôde reter seu
louvor a Deus portal dom indescritível (v,15)?
3. GRAÇA TODA-SUFICIENTE
Paulo experimentou a graça de Deus
de um modo que poucos experimentaram, pois, suportou sofrimentos como
poucos o fizeram. Em 2 Coríntios 12.9, o Senhor lhe deu uma das
verdades mais profundas de toda revelação: “A minha graça te
basta". Aquela maravilhosa promessa se estende a todo crente,
mas foi dada em um contexto de sérias dificuldades, aflição,
perseguições e fraquezas humanas (v. 10).
No capítulo 11, Paulo faz uma lista
das muitas dificuldades e situações ameaçadoras pelas quais ele
passara. Incluídas em sua lista estão grandes aflições
físicas, aprisionamentos, espancamentos, apedrejamentos, naufrágios,
rios perigosos, assaltantes, perseguição de gentios e judeus,
noites mal dormidas, frio e calor, fome e sede (vv. 23-27). Ainda
mais dolorosa do que tudo isso era a preocupação diária que ele
tinha de bem-estar das igrejas que eram a maior paixão de Paulo (Cl
1.28-29) e apresentavam o maior potencial para trazer-lhe dor e
decepção.
4. AS LIÇÕES DA GRAÇA
As circunstâncias aflitivas
experimentadas por Paulo colocaram-no em posição de aprender
algumas lições maravilhosas sobre a graça de Deus, as quais ele
nos transmite em 2 Coríntios 12.7-10.
4.1. Humildade.
Deus sabe que os homens estão sujeitos
ao orgulho, especialmente quando estão em posições de privilégio
espiritual. Portanto, Deus usa oposição e sofrimento para lhes
ensinar a humildade.
Paulo foi talvez o homem
espiritualmente mais privilegiado que já viveu; e a graça do Senhor
em sua vida foi extraordinária. Em pelo menos quatro ocasiões o
próprio Jesus apareceu a ele, a fim de instruí-lo e encorajá-lo em
tempos de profunda necessidade (At 9.4-6; 18.9,10; 22.17-21; 23.11; 2
Co 12.1-4). Recebeu tão ampla revelação da parte de Deus que seus
escrit os formam quase a metade dos livros
do Novo Testamento. Por causa da natureza
extraordinária destas revelações, Deus colocou um “espinho na
carne” de Paulo, para guardá-lo da exaltação
(2 Co 12.7). Essa expressão poderá inspirar um quadro de uma pessoa
furando o dedo com um pequeno espinho, a colher rosas. Mas, como
observamos no capítulo anterior, a palavra grega traduzida por
“espinho” literalmente significa uma estaca, na carne pecaminosa
de Paulo, para afligi-la e matá-la, com o propósito de evitar a
jactância e o orgulho.
Paulo descreveu o espinho como um
“mensageiro de Satanás” (v. 7). Há muitos pontos de vista
diferentes sobre o que isso significa, mas se consideramos pelo
significado, evidente, podemos simplificar a questão. Um mensageiro
de Satanás é alguém a quem Satanás envia com uma mensagem: isso é
bastante claro. A palavra grega traduzida por “mensageiro” é
angelos, que é usada mais de 170 vezes no Novo Testamento e sempre
se refere a uma pessoa- homem ou anjo. Portanto, é demasiado
improvável que Paulo estivesse usando essa palavra no versículo 7
para se referir a um mal físico, como muitos comentaristas sugerem.
O espinho a que Paulo se refere era uma
pessoa. Estou convencido de que era o cabeça da oposição em
Corinto, o qual estava difamando Paulo, mediante um ataque pessoal ao
seu caráter e ao seu ministério, fazendo com que as pessoas amadas
por Paulo se virassem contra ele.
O argumento de Paulo é que Deus fez
com que Satanás enviasse alguém para afligi-lo de forma agressiva.
Paulo entendeu isto e até sabia a razão de tal tratamento: “Para
que não se ensoberbecesse” (v.7). Assim como Ele usara Satanás
para humilhar Jó e Pedro, Deus estava preparando Paulo para ser mais
útil. Ao contrário de muitos conselheiros humanos, que buscam
elevar a opinião da pessoa sobre si mesma, Deus nos esvazia para que
tenhamos um relacionamento correto com Ele. Depois, exalta-nos de
acordo com a sua vontade e nos dá graça maravilhosa (Tg 4.6,10).
4.2. Dependência
Frequentemente outros crentes são
canais da graça de Deus, mas somente Ele é a fonte. Temos a
tendência de nos voltarmos para as pessoas a fim de solucionar
nossas mágoas, mas Deus quer que, em tempos de dificuldade,
busquemos primeiramente a Ele.
Essa foi à reação de Paulo. Em
2 Coríntios 12.8, ele diz: “Por causa disto, três vezes pedi ao
Senhor que o afastasse de mim”. Rogar é pedir ou apelar a alguém,
Observe que as palavras de Paulo não foram: “Por causa disto, fui
ao meu terapeuta, fiz um seminário, li um livro ou repreendi a
Satanás”. Ele tomou o rumo que muitos consideram simplista: ao
Senhor!
Três vezes ele rogou que Deus
removesse o espinho; três vezes o Senhor disse não. Paulo orou fiel
e persistentemente; e aprendeu que os propósitos de Deus se
realizariam melhor com a resposta negativa.
4.3. Suficiência
Paulo ficou contente com a resposta de
Deus, porque sabia que Deus iria suprir graça suficiente para sua
provação.
“Então ele me disse: A minha graça
te basta” (v. 9). “Ele me disse” – está no tempo perfeito no
texto grego, implicando que, toda vez que Paulo orava, Deus dizia e
continuava a dizer a mesma coisa. “A minha graça te basta”.
Deus respondeu à oração de Paulo,
não para dar o que ele pedia, nem para remover o problema ou a dor,
mas por suprir graça suficiente para que Paulo pudesse suportá-lo.
Por que remover algo que gera benefícios tão imensos, tais como
a humildade, a comunhão e maior glória para Deus?
4.4. Poder
O sofrimento que revela as nossas
fraquezas, serve também para revelar o poder de Deus: “Porque
o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (v.9). Quando somos menos
dependentes de nossa força humana e temos apenas o poder de Deus
para nos sustentar, então somos canais adequados pelos quais Deus
faz fluir seu poder. Desta forma, devemos louvar a Deus pela
adversidade, pois ela é a ocasião em que o poder de Deus é mais
evidente em nossas vidas. Não existe alguém tão fraco que não
possa tornar-se forte, mas existem muitos que achando-se fortes
continuarão fracos.
Paulo compreendeu esta verdade. Sua
atitude foi de gozo e louvor. No versículo 9, ele diz: “De boa
vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo”. Ele não era um masoquista. Não
adorava ser maltratado, mas amava a graça e o poder de Deus
manifestados nele. Sabia que um ministério espiritual só pode ser
realizado no poder do Espírito. Quando sua reputação acabasse,
Paulo não poderia depender dela. Quando sua força física se
esgotasse, não poderia se amparar nela. Ficou limitado a pregar a
mensagem que Deus lhe havia confiado e a depender do poder de Deus
para fazer o resto, e Deus nunca falhou com ele.
CONCLUSÃO
Paulo nos dá um princípio-chave no
versículo 10: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias,
nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de
Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte”.
Paulo aceitou o seu problema grave como
um amigo destinado a torná-lo mais útil para Deus. Sua atitude faz
um grande contraste com a atitude de nossa sociedade! A maioria das
pessoas pensa que a felicidade consiste em gozar de circunstâncias
agradáveis e em possuir muitos bens.
Muitos cristãos parecem pensar que
guardar os crentes de todas as dificuldades é a maior expressão da
graça de Deus. Em muitos momentos Deus nos guarda de fato, das
dificuldades, mas em outros Ele as usa para revelar sobre nós que a
sua graça é suficiente para termos uma vida abundante de gozo e
alegria no Espírito.