Introdução
Todos
nós sofremos com a culpa. Alguns hoje, outros ontem e muitos amanhã.
Desde a queda, o homem sofre com a culpa (Gn 3:8-12). Embora haja a
culpa procedente, a maior parte das pessoas sofre de sentimento de
culpa improcedente, ou seja, quando na realidade ela não fez nada,
mas sente que fez e se sente culpada - como no caso de filhos que se
culpam pela separação dos pais; pessoas que se sentem culpadas por
terem deixado que adultos abusassem sexualmente delas, quando eram
crianças; mulheres que se sentem culpadas por terem sofrido estupro,
etc. Há muitas pessoas com esse problema. Entretanto, vamos nos
deter na culpa gerada pelo próprio pecado. Esta lição está
baseada e adaptada do livro: Aconselhamento Cristão, Gary Collins,
Ed. Vida Nova, p.100 -110
I - Tipos de culpa
Segundo
os especialistas em aconselhamento bíblico, existem dois tipos de
culpa.
I. A culpa real. É a culpa que existe porque uma lei foi
quebrada, independentemente de sentir-nos culpados ou não. Os tipos
de culpa real são quatro.
A) Culpa legal. Quando uma lei é
quebrada. Ex.: ultrapassar o sinal vermelho ou roubar um chocolate no
supermercado. Perante a lei, aquele que assim proceder é culpado,
independente de ser apanhado ou sentir remorso.
B) Culpa
social. Quando quebramos uma lei não escrita, mas socialmente
imposta. Ex.: fazer fofoca, fazer uma brincadeira de mau gosto ou
comporta-se com grosseria. Nenhuma lei é quebrada e talvez não
cause nenhum remorso, mas feriu o código ético social.
C)
Culpa pessoal. Quando não fazemos o que é correto. Ex.: não
devolver o troco que foi dado a mais, colar numa prova ou ignorar
alguém necessitado. Sentimos ou não culpa, mas temos certeza que
não foi correto o que fizemos.
D) Culpa bíblica.
Quando uma lei de Deus é quebrada. A Bíblia chama essa condição
de "pecado".
2. A culpa sentida
É o
sentimento desconfortável, remorso ou vergonha que surge com
frequência quando falamos, fazemos ou pensamos algo errado, ou
deixamos de fazer o que entendemos ser o correto. Como resultados do
sentimento de culpa surgem o desânimo, a ansiedade e o medo do
castigo.
Quando o sentimento de culpa pelo pecado nos aflige,
ele tem um propósito benéfico: serve de aviso de que alguma coisa
está errada no nosso relacionamento com Deus ou com os outros.
II
- A Bíblia e a culpa
Na Bíblia, encontramos pouca diferença
entre ser culpado e haver pecado. A pessoa é culpada, no sentido
bíblico, quando desobedece a uma lei ou a um princípio da Palavra
de Deus. O propósito é espiritual, pois visa estimular o ser humano
a mudar de comportamento e buscar o perdão de Deus, além de ajudar
a resolver conflitos com outras pessoas. Por outro lado, existe um
falso sentimento de culpa (complexo de culpa), quando a pessoa coloca
sobre ela pesos e cobranças que o próprio Deus não faz.
I.
Complexo de culpa versus tristeza construtiva (2Co 7:6-10)
Nessa
passagem, Paulo contrasta a "tristeza segundo o mundo" com
a "tristeza segundo a vontade de Deus", que é uma tristeza
construtiva, pois leva a uma mudança positiva.
Tristeza segundo
Deus: tristeza construtiva (v. 10a) - produz arrependimento
para salvação.
Tristeza segundo o mundo: (v. 10a) - produz
morte.
-
Complexo de CulpaTristeza ConstrutivaPessoa focalizadaVocêDeus e outrosAtitude FocalizadaErros do passadoPrejuízo causados a outros e vontade de realizar obras corretas no futuro.Motivação para a mudançaEvitar sentimentos negativos (complexo de culpa)Ajudar outros. Promover o próprio crescimento. Fazer a vontade de Deus.ReaçãoIra,frustração e autocriticaAmor respeito combinados com preocupaçãoResultado- Mudança externa ( Temporária )
- Falta de crescimento
- Mais Culpa
Arrependimento e mudança baseados numa atitude de amor e respeito mútuos
2. Um
exemplo
Imagine que você vai ouvir música com um amigo e,
acidentalmente você liga o aparelho dele na voltagem errada. O
complexo de culpa nos leva a ter a seguinte reação: "Me
desculpe. Veja como sou desastrado. Que situação horrível!".
O ofensor se sente tolo e cheio de auto-crítica. Mas, a tristeza
construtiva leva a pessoa a ter outra reação: "Sinto muito.
Vou buscar o meu aparelho de som e deixarei com você enquanto o seu
estiver no conserto". A tristeza construtiva visa reparar o dano
causado ou erro cometido, sem levar a pessoa a ter uma sensação de
que o mundo acabou.
III - As causas da culpa
1.
Causas legítimas
A) Desobediência à Palavra. A Bíblia é o
padrão para identificar a culpa (Rm 2: 1-2).
B) Pecados não
confessados fazem com que o crente se sinta culpado e não perdoado
(I Jo 1:9).
C) Conflitos não resolvidos. Quando negamos conceder
perdão ou pedir perdão (Mt 6: 14-15).
D) Satanás. Causa
sentimentos de culpa através da acusação (Ap 12: I O).
2.
Causas não-legítimas
A) Peso de consciência. A consciência
não é um guia de confiança (I Co 10:29; ITm 4:2; IJo 3:20).
B)
Desejo de agradar a todos. A pessoa sente culpa por ter que
contrariar alguém ou por dizer "não".
C)
Perfeccionismo. Muitas vezes o crente estabelece um padrão moral ou
espiritual de vida que nem o próprio Deus exige dele (Dt 10: 12:13 -
em lugar de Israel, coloque o seu nome).
A) Engano ministrado por
falsos mestres (At 20:29-30).
3. Perguntas para discernir o falso
sentimento de culpa
b) Sinto peso de culpa porque desobedeci
algum princípio bíblico?
c) Continuo sentindo peso de culpa,
mesmo depois de ter confessado meu pecado?
d) O sentimento se
relaciona a um padrão perfeccionista que estabeleci para mim mesmo?
e) O sentimento vem porque tenho medo de ser frio e não me
sentir culpado de nada?
"Carregar falsos sentimentos de
culpa é pior do que carregar os verdadeiros" (Autor
Desconhecido).
III – Efeito da Culpa
O ser humano
reage de diversas formas ao sentir-se culpado por algo que fez ou
deixou de fazer.
I. Reação de defesa
O indivíduo culpa os
outros para justificar seus atos, fica zangado e nega sua
responsabilidade.
2. Reação de auto condenação Ansiedade,
baixa estima, pessimismo, insegurança e autopunição.
3. Reação
social
Afasta as pessoas e se afasta delas. Torna-se crítico
demais e isolado.
4. Reação física
Por causa da tensão, o
corpo sofre e enfraquece.
5. Reação de arrependimento e perdão
Os efeitos da culpa não são todos negativos. Alguns aprendem a se
conscientizar de seus erros, a melhorar através deles, a
confessar-se a Deus e aos outros, e alegrar-se na segurança de que
"se confessamos nossos pecados, ele é fiel e usto para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (I Jo I
:9).
'I - Como tratar a culpa (SI 32)
o Salmo 32 é um
bálsamo para aquele que busca o perdão de Deus. Veja o que nos
ensina.
I. A culpa é uma doença moral, por isso o tratamento é
espiritual (SI 32: 1-2)
Nesse Salmo, Davi nos ensina que a culpa
surge por causa de fracassos morais não-confessados e não
perdoados. Em outras palavras, a culpa é uma doença moral capaz de
afetar a mente, a alma e o corpo do ser humano. O primeiro ser humano
a senti-Ia foi Adão, e desde então seus descendentes sofrem física
e emocionalmente as conseqüências de seu erro. Mas essa doença tem
cura. Deus Se compromete, em Cristo, a apagar os pecados confessados
usando o perdão e a justificação. E o resultado do tratamento é a
alegria verdadeira (bem-aventurado). Vejamos o caso apresentado em
João 8:3-11, no qual uma mulher foi apanhada em adultério. Ela era
culpada e se sentia dessa forma, mas Jesus não era como os demais
que queriam condená-Ia. Ele não aprovou seu pecado nem abaixou os
padrões de Deus, mas ordenoulhe com bondade e firmeza "vai
e não peques mais". Mesmo nessas condições, Deus não nos
rejeita.
2. Arrependimento e confissão é o segredo do perdão
(SI 32:3-4)
Davi sofreu as consequências do pecado não
confessado. Da mesma forma, muitos crentes experimentam sentimentos
de culpa pouco saudáveis, que levam à depressão, perda da paz,
medo, complexo de inferioridade, solidão, e um sentimento de
rejeição não-verdadeiro por parte de Deus.
3. Deus não espera
de nós perfeição, mas disposição (SI 32:5-7)
Deus espera de
nós uma tentativa sincera de fazer a Sua vontade da melhor maneira
que pudermos. Deus não está tão interessado no que fazemos ou
deixamos de fazer, mas em quem realmente somos e em que estamos nos
tornando. Aquele que é compassivo, também ama incondicionalmente e
perdoará nossos pecados sem exigir de nós expiação ou penitência,
pois a expiação e a penitência não são mais necessárias, porque
Cristo já pagou pelos pecados humanos, " ... uma única vez, o
justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus ... " (I Pe 3:
18).
'I J - Prevenir
é melhor que culpar-se
Há
determinadas atitudes que devemos tomar ante o sentimento ou o
complexo de culpa com as quais beneficiaremos a nós mesmos e ao
próximo.
I. Ensinar a doutrina bíblica do perdão. A melhor
maneira de aprender é experimentar e praticar.
2. Mostrar a
diferença entre complexo de culpa e tristeza construtiva.
3.
Ajudar os irmãos a compreender que Deus conhece nossas fraquezas e
não nos rejeita por causa delas, mas perdoa, ajuda e restaura com
amor, todo aquele que arrependido confessa seu pecado a Ele.
4.
Examinar à luz da Bíblia as expectativas e padrões de "certo
e errado". O que eu penso ser "certo" é certo porque
a Bíblia diz, ou porque eu penso assim? Da mesma forma para o que eu
penso ser "errado".
S. Lembrar que os sentimentos de
culpa pelo pecado não são maus, pois podem nos estimular a
confessar o pecado ou a resolver um conflito de relacionamentos.
6.
Pedir ajuda adequada, quando se sentir incapaz, não-perdoado ou
rejeitado. A pergunta é: como ajudar as pessoas que recisam de
arrependimento sem criar nelas um complexo de culpa?" Lembre-se
que há psicólogos cristãos, devidamente preparados para lidar com
o complexo de culpa.
CONCLUSÃO:
A reação construtiva
diante da culpa deve ser o arrependimento, a confissão e o abandono
do pecado, independente de achar-se digno ou indigno, limpo ou sujo
ou sentir-se rejeitado por Deus. Se não há arrependimento,
confissão e abandono do pecado, Satanás vai conseguir que o
sentimento de culpa seja um aliado em seu propósito de afastar-nos
de Deus.
Devemos acreditar que a solução final para a culpa
e os sentimentos de culpa é admitir nossa culpa, confessar o pecado
a Cristo e, quando necessário, aos outros, e então crer que com a
ajuda de Cristo, somos perdoados e aceitos por Deus. E Ele, nos
ajudará a aceitar, amar e perdoar tanto a nós mesmos como aos
outros. A culpa do crente já foi removida na cruz do Calvário, por
iniciativa do Senhor. E, com a ajuda do nosso Salvador, temos um meio
de tratar os sentimentos de culpa.
"O propósito do perdão
de Deus não é apenas aliviar a nossa consciência, mas nos dar uma
vida plena."