segunda-feira, 20 de julho de 2015

A graça suficiente de Deus 2 Coríntios 12:7-10 John MacArthur Jr.


INTRODUÇÃO
Há uma única palavra que abrange todas as riquezas que encontramos em Cristo: graça. Que palavra magnífica!
Ela é usada mais de 170 vezes no Novo Testamento, para referir-se ao favor divino conferido a pessoas que não o merecem. É o meio pelo qual recebemos todas as bênçãos materiais e espirituais. Para nós a graça de Deus é inexaurível e ilimitada, incluindo tudo a respeito das provisões em Jesus Cristo.
Pela graça, somos salvos (Ef 2.8) e nos mantemos firmes (Rm 5.2). A graça sustenta a nossa salvação, dá-nos vitória na tentação e ajuda-nos a suportar o sofrimento e a dor. A graça nos ajuda a entender a palavra e a aplicá-la com sabedoria às nossas vidas, nos conduz à comunhão e à oração, capacitando-nos a servir ao Senhor eficazmente. Em suma, existimos e estamos firmes no ambiente da graça toda-suficiente.

1. GRAÇA SOBRE GRAÇA

Uma das declarações mais maravilhosas sobre o Senhor é que Ele era “cheio de graça” (Jo 1.14); e “nós temos recebido da sua plenitude e graça acumulada – uma graça sobrepondo-se à outra. Tal graça é nossa a cada dia; é ilimitada e suficiente para cada necessidade. Paulo falava a este respeito como “abundância da graça” (Rm5.17);“a suprema riqueza da sua graça” (Ef 2.7) e a “superabundante graça” (2 Co 9.14). Pedro mencionou a “multiforme” graça de Deus (1 Pe 4.10). Ele usou esta mesma palavra, ao falar das várias provas que os crentes enfrentam (1 Pe 1.6).
Este é um maravilhoso paralelo: a multifacetada graça de Deus é suficiente para as nossas múltiplas provas.

2. GRAÇA SUPERABUNDANTE

Talvez em nenhum outro lugar a magnificência da graça é mais maravilhosamente expressa do que em 2 Coríntios 9.8,11: As ênfases neste texto são admiráveis: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra…enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam, tributadas graças a Deus”.
Em certo sentido, só esse texto já resume tudo que poderia ser dito sobre nossa suficiência em Cristo. Postos em um contexto que descreve as provisões materiais concedidas por Deus, estes versículos têm um significado que obviamente se estende a proporções ilimitadas. A graça superabundante habita todo crente (v. 14). É de se admirar que Paulo não pôde reter seu louvor a Deus portal dom indescritível (v,15)?

3. GRAÇA TODA-SUFICIENTE

Paulo experimentou a graça de Deus de um modo que poucos experimentaram, pois, suportou sofrimentos como poucos o fizeram. Em 2 Coríntios 12.9, o Senhor lhe deu uma das verdades mais profundas de toda revelação: “A minha graça te basta". Aquela maravilhosa promessa se estende a todo crente, mas foi dada em um contexto de sérias dificuldades, aflição, perseguições e fraquezas humanas (v. 10).
No capítulo 11, Paulo faz uma lista das muitas dificuldades e situações ameaçadoras pelas quais ele passara. Incluídas em sua lista estão grandes aflições físicas, aprisionamentos, espancamentos, apedrejamentos, naufrágios, rios perigosos, assaltantes, perseguição de gentios e judeus, noites mal dormidas, frio e calor, fome e sede (vv. 23-27). Ainda mais dolorosa do que tudo isso era a preocupação diária que ele tinha de bem-estar das igrejas que eram a maior paixão de Paulo (Cl 1.28-29) e apresentavam o maior potencial para trazer-lhe dor e decepção.

4. AS LIÇÕES DA GRAÇA

As circunstâncias aflitivas experimentadas por Paulo colocaram-no em posição de aprender algumas lições maravilhosas sobre a graça de Deus, as quais ele nos transmite em 2 Coríntios 12.7-10.
4.1. Humildade.
Deus sabe que os homens estão sujeitos ao orgulho, especialmente quando estão em posições de privilégio espiritual. Portanto, Deus usa oposição e sofrimento para lhes ensinar a humildade.
Paulo foi talvez o homem espiritualmente mais privilegiado que já viveu; e a graça do Senhor em sua vida foi extraordinária. Em pelo menos quatro ocasiões o próprio Jesus apareceu a ele, a fim de instruí-lo e encorajá-lo em tempos de profunda necessidade (At 9.4-6; 18.9,10; 22.17-21; 23.11; 2 Co 12.1-4). Recebeu tão ampla revelação da parte de Deus que seus escrit os formam quase a metade dos livros do Novo Testamento. Por causa da natureza extraordinária destas revelações, Deus colocou um “espinho na carne” de Paulo, para guardá-lo da exaltação (2 Co 12.7). Essa expressão poderá inspirar um quadro de uma pessoa furando o dedo com um pequeno espinho, a colher rosas. Mas, como observamos no capítulo anterior, a palavra grega traduzida por “espinho” literalmente significa uma estaca, na carne pecaminosa de Paulo, para afligi-la e matá-la, com o propósito de evitar a jactância e o orgulho.
Paulo descreveu o espinho como um “mensageiro de Satanás” (v. 7). Há muitos pontos de vista diferentes sobre o que isso significa, mas se consideramos pelo significado, evidente, podemos simplificar a questão. Um mensageiro de Satanás é alguém a quem Satanás envia com uma mensagem: isso é bastante claro. A palavra grega traduzida por “mensageiro” é angelos, que é usada mais de 170 vezes no Novo Testamento e sempre se refere a uma pessoa- homem ou anjo. Portanto, é demasiado improvável que Paulo estivesse usando essa palavra no versículo 7 para se referir a um mal físico, como muitos comentaristas sugerem.
O espinho a que Paulo se refere era uma pessoa. Estou convencido de que era o cabeça da oposição em Corinto, o qual estava difamando Paulo, mediante um ataque pessoal ao seu caráter e ao seu ministério, fazendo com que as pessoas amadas por Paulo se virassem contra ele.
O argumento de Paulo é que Deus fez com que Satanás enviasse alguém para afligi-lo de forma agressiva. Paulo entendeu isto e até sabia a razão de tal tratamento: “Para que não se ensoberbecesse” (v.7). Assim como Ele usara Satanás para humilhar Jó e Pedro, Deus estava preparando Paulo para ser mais útil. Ao contrário de muitos conselheiros humanos, que buscam elevar a opinião da pessoa sobre si mesma, Deus nos esvazia para que tenhamos um relacionamento correto com Ele. Depois, exalta-nos de acordo com a sua vontade e nos dá graça maravilhosa (Tg 4.6,10).
4.2. Dependência
Frequentemente outros crentes são canais da graça de Deus, mas somente Ele é a fonte. Temos a tendência de nos voltarmos para as pessoas a fim de solucionar nossas mágoas, mas Deus quer que, em tempos de dificuldade, busquemos primeiramente a Ele.
Essa foi à reação de Paulo. Em 2 Coríntios 12.8, ele diz: “Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim”. Rogar é pedir ou apelar a alguém, Observe que as palavras de Paulo não foram: “Por causa disto, fui ao meu terapeuta, fiz um seminário, li um livro ou repreendi a Satanás”. Ele tomou o rumo que muitos consideram simplista: ao Senhor!
Três vezes ele rogou que Deus removesse o espinho; três vezes o Senhor disse não. Paulo orou fiel e persistentemente; e aprendeu que os propósitos de Deus se realizariam melhor com a resposta negativa.
4.3. Suficiência
Paulo ficou contente com a resposta de Deus, porque sabia que Deus iria suprir graça suficiente para sua provação.
Então ele me disse: A minha graça te basta” (v. 9). “Ele me disse” – está no tempo perfeito no texto grego, implicando que, toda vez que Paulo orava, Deus dizia e continuava a dizer a mesma coisa. “A minha graça te basta”.
Deus respondeu à oração de Paulo, não para dar o que ele pedia, nem para remover o problema ou a dor, mas por suprir graça suficiente para que Paulo pudesse suportá-lo. Por que remover algo que gera benefícios tão imensos, tais como a humildade, a comunhão e maior glória para Deus?
4.4. Poder
O sofrimento que revela as nossas fraquezas, serve também para revelar o poder de Deus: “Porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (v.9). Quando somos menos dependentes de nossa força humana e temos apenas o poder de Deus para nos sustentar, então somos canais adequados pelos quais Deus faz fluir seu poder. Desta forma, devemos louvar a Deus pela adversidade, pois ela é a ocasião em que o poder de Deus é mais evidente em nossas vidas. Não existe alguém tão fraco que não possa tornar-se forte, mas existem muitos que achando-se fortes continuarão fracos.
Paulo compreendeu esta verdade. Sua atitude foi de gozo e louvor. No versículo 9, ele diz: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo”. Ele não era um masoquista. Não adorava ser maltratado, mas amava a graça e o poder de Deus manifestados nele. Sabia que um ministério espiritual só pode ser realizado no poder do Espírito. Quando sua reputação acabasse, Paulo não poderia depender dela. Quando sua força física se esgotasse, não poderia se amparar nela. Ficou limitado a pregar a mensagem que Deus lhe havia confiado e a depender do poder de Deus para fazer o resto, e Deus nunca falhou com ele.

CONCLUSÃO

Paulo nos dá um princípio-chave no versículo 10: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte”.
Paulo aceitou o seu problema grave como um amigo destinado a torná-lo mais útil para Deus. Sua atitude faz um grande contraste com a atitude de nossa sociedade! A maioria das pessoas pensa que a felicidade consiste em gozar de circunstâncias agradáveis e em possuir muitos bens.
Muitos cristãos parecem pensar que guardar os crentes de todas as dificuldades é a maior expressão da graça de Deus. Em muitos momentos Deus nos guarda de fato, das dificuldades, mas em outros Ele as usa para revelar sobre nós que a sua graça é suficiente para termos uma vida abundante de gozo e alegria no Espírito.